LAÇOS DE FAMÍLIA
LAÇOS DE FAMÍLIA
Curioso notar como os seres se
enredam em estórias televisivas - algumas até se comovem a ponto de alterar o
equilíbrio psico-somático -- onde as relações familiares são uma criação
literalmente infernal: intrigas, traições, agressões, promiscuidade,
prostituição, degradação de valores, em suma, um “inferno astral”.
Entretanto,
o assunto necessariamente, para os espíritas, conduz a uma reflexão profunda
sobre as origens do instituto familiar, do porquê ele existe, sua composição
real, a fim de avaliar sua importância ou não no contexto do progresso das
criaturas.
Basta que se
vá ao Livro dos Espíritos (repositório de teses filosóficas e de respostas para
todas as atividades da vida), onde se encontra, na parte 3ª, Cap.
VII, ao tratar da Lei de Sociedade, o subtítulo absolutamente apropriado: “Laços de Família” (questões 773 e
774).
No citado
capítulo temos que os laços de família decorrem da Lei Natural, no caso da lei
de sociedade, de sorte que os liames, as ligações
sociais são necessárias ao progresso e as ligações de família fortalecem aqueles laços sociais. Tão
categórica é a afirmação dos Espíritos nesse sentido, que acrescentam que, por
essa forma, pelos laços familiares, “quis Deus que os homens aprendessem a
amar-se como irmãos”.
Vejamos o
porquê: a sociedade é feita de indivíduos, e estes são nada mais nada menos que
Espíritos encarnados; logo, são criaturas de Deus, criados simples e ignorantes[1],
mas fadados à perfeição[2],
ainda que relativa[3].
Ora, se os
indivíduos são de origem divina, a família também o é, pois que ela resulta da união das criaturas ligadas pela empatia (identidade de estado de
espírito), ou melhor: relações simpáticas,
por afinidade de gostos e de idéias, por afeição recíproca; ou relações antipáticas, onde espíritos
antagonistas e desafetos se reúnem para resgate[4].
Pela postura
da média das pessoas, percebe-se com clareza que elas consideram as relações
familiares derivadas da “obra do acaso”.
Ou, então, que, mesmo sendo obra de Deus, este é arbitrário e tendencioso, pois
nos impôs este ou aquele núcleo
familiar. Ou ainda, quando com conceitos religiosos do passado, todo sofrimento
e dificuldades derivariam do malsinado pecado
original...
Mas, então,
se não é nada disso, como explicar tantas diferenças e até desavenças e como
obter respostas para os problemas que se vive nas relações de família?
Se outras
religiões não têm a solução é porque desconhecem as causas, por nunca as terem
buscado. Mas, o Espiritismo desvenda esse “mistério”; ele não é místico nem
ciência de adivinhação: manda pensar, raciocinar, manda observar; busca a causa
de todos os fatos, explica as conseqüências, ajuda na compreensão ou solução do
problema.
No caso,
procede-se assim: na criação não há nem pode haver acaso[5].
A reencarnação é a chave da questão: as uniões familiares são deliberações e
compromissos tomados na vida espiritual, com a finalidade de ser desenvolvida
na Terra uma tarefa construtiva de fraternidade e evolução[6],
seja fruto de expiação ou de provas livremente assumidas
(relembrando a lição dos Espíritos no L. E.: Deus quis que fossemos irmãos, nos
amando...).
Portanto, a
pluralidade das existências (ou reencarnações), nesse caso, é instituto
redentor e atuante no aperfeiçoamento dos seres: é a lei natural “perdoando” as
faltas e violações do passado, dando novas oportunidades. Logo, não estamos
juntos de nossos familiares (bons ou ruins) por acaso: os iguais se atraem... É eterna e imutável lei natural
atuando: na Química, é a lei das combinações; na Física, a lei da atração dos
corpos; na Moral, a identidade dos semelhantes derivada da sintonia e da empatia.
Afinal, como
não é por acaso que estamos unidos em determinados laços de família (unidos a
maridos, mulheres, filhos, pais, genros, noras, sogros etc.), unicamente no “mundo
das causas”, ou seja, desencarnados, é que efetivamente será possível
esse entendimento definitivo e cabal[7].
“Em vista de
tudo isso, que nos cabe fazer ante os parentes?” R: “...Consagremo-nos à
felicidade de todos e façamos o melhor ao nosso alcance, a benefício de cada
um” -- é a recomendação sábia e
ponderada de Emmanuel, no extraordinário “livrinho” Leis de Amor[8].
Só reclamar
não adianta, pois que é imperioso reconhecer que não somos vítimas, mas muitas das vezes somos os agentes do desajuste, de hoje ou de ontem: os pais despóticos de
hoje, podem ter sido nossos filhos em quem inoculamos o egoísmo e a
intolerância no passado; o filho rebelde de hoje é o irmão que arrojamos, um
dia, à intemperança e à delinqüência; o marido desleal de hoje, é o mesmo
esposo do passado que precipitamos na deserção, que abandonamos; a esposa
desorientada de hoje, é a mesma que menosprezamos em outra época, obrigando-a a
resvalar no poço da loucura[9].
Em suma: não
existe efeito sem causa.
Mas, somos
as criaturas de Deus, que é todo amor e bondade; portanto, também somos amor e
bondade. Se nos conscientizarmos disso, nossos laços de família serão os mais
apertados no bem e na felicidade.
Francisco Aranda Gabilan
fagabilan@uol.com.br
[1] Livro
dos Espíritos, questão 115
[2] Idem,
questão 116
[3] A
Gênese, cap. XI, item 9 e Ev.Seg.Esp., cap. XVII, item 2
[4]Evang.Seg.Esp.,
cap. XIV, item 8
[5] Livro
dos Espíritos, questão n. 4
[6] O
Consolador, Emmanuel, perg. 175
[7] Vida e
Sexo, Emmanuel, cap. 18
[8] Leis de
Amor, Emmanuel, cap. II, questão 15
[9] Idem,
questões 8 a 13.
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